8.3.11

AS AMAZONAS GUERREIRAS

AS AMAZONAS

Descendentes de Ares, o Deus da guerra e da Ninfa Harmonia, as Amazonas são uma nação de guerreiras comandadas por uma rainha, cujos domínios situavam-se no Ponto Euxino (Mar Negro), e segundo outros, na Trácia. O Porto de Temiscira, às margens do rio Termodonte teria sido a morada de Hipólita e suas comandadas. A entrada de homens era proibida no país das Amazonas; elas usavam os homens apenas para trabalhos servis, e perpetuavam a raça unindo-se periodicamente a estrangeiros, deixando vivas apenas as meninas; os meninos elas matavam, mutilavam, ou ainda, devolviam para os pais. As meninas eram treinadas desde pequenas a aprenderem a lidar com a agricultura, com a caça, e na arte da guerra. Dizem que as Amazonas mutilavam o seio direito, desde meninas, para que pudessem manejar com mais destreza o arco e a lança, e que devem o seu nome a esse costume (amázon em grego quer dizer "sem seio"). Isso parece ser pouco provável, já que são retratadas, em diversas obras de arte, como belas mulheres, atléticas e saudáveis, muitas vezes, com os seios desnudos. Dentro da nação Amazona, existiam tribos diversas, cada qual com costumes diferentes. A Deusa Artêmis, que tem muitas características em comum com as Amazonas, era a protetora destas temidas guerreiras, além de Hécate, honrada na Lua Nova, Éris, Hera e Ares. As Amazonas teriam invadido a Grécia, a Síria, a Península Arábica, o Egito, a Líbia, e as ilhas do Mar Egeu.
RAINHAS:
Hipólita: Muitos heróis gregos lutaram contra essa nação de guerreiras, como por exemplo, Belerofonte, obedecendo a Iobates, e Héracles, incumbido por Euristeu de apoderar-se do cinto de Hipólita, rainha das Amazonas; esse cinto havia pertencido a Ares, e tinha sido dado pelo Deus a Hipólita, sua filha, para ser símbolo da soberania da rainha sobre suas súditas. Diz o mito que Héracles conseguiu o cinto pacificamente, mas a Deusa Hera, disfarçada em Amazona, provocou uma briga entre os amigos do herói e as guerreiras, ocasionando, segundo uns, a morte da rainha. Seu nome significa "aquela que solta ou deixa ir os cavalos".
Pentesiléia: As Amazonas participaram também da Guerra de Tróia, enviando Pentesiléia, sua rainha, e irmã ou filha de Hipólita, para lutar ao lado de Príamo, rei de Tróia. Em seguida à morte de Heitor, Pentesiléia chegou a Tróia à frente de um contingente de 12 bravas combatentes para ajudar o rei troiano. Depois de demonstrar uma bravura invulgar na parte final da guerra ela foi atingida mortalmente por Aquiles, que se encantou por sua bela vítima ao vê-la cair ferida, e cujo último olhar provocou uma intensa paixão no destemido herói, que chorou ao contemplar-lhe o corpo morto. O sentimento de Aquiles provocou comentários maldosos de Tersites, que, movido por sua baixeza de caráter, além de zombar de Aquiles, ameaçou furar os olhos da Amazona morta com a ponta da lança; o herói indignado, esmurrou-o até vê-lo morto. Curiosamente, assim como o nome de Aquilles, seu nome tem a ver com sofrimento; significa "a que sofre por seu povo".

Mirina ou Esmirna: Atribui-se a fundação das cidades de Esmirna e de Éfeso e de outras na Ásia Menor, à Esmirna. Acredita-se que Esmirna era a mesma Amazona, conhecida como Mirina, a maior de todas as heroínas, pois Esmirna, segundo alguns estudiosos, parece significar "Deusa Mirina", além do significado mais conhecido, que é "mirra". Mirina, por sua vez, aproxima-se de "Mãe do Crepúsculo", já que, esta Amazona foi divinizada após sua morte.

Mirina declarou guerra aos atlantes que habitavam um país vizinho da Líbia, à beira do Oceano. Comandando uma cavalaria de 20.000 Amazonas e uma infantaria de 3.000 mil, conquistou Cerne, território de um dos 10 reinos da Atlântida. Avançou sobre a capital, destruiu-a e passou todos os homens válidos a fio de espada, levando em cativeiro as mulheres e as crianças. Os outros 9 reinos Atlantes, aterrorizados, renderam-se imediatamente. Mirina foi generosa e fez aliança com eles. Construiu uma cidade dando-lhe seu nome, no lugar da que havia destruído, e franqueou-a a todos os prisioneiros e a todos que desejassem habitá-la. Os atlantes pediram à Amazona que os ajudasse na luta contra as Górgonas. Depois de uma batalha sangrenta, Mirina triunfou brilhantemente, mas muitas das Górgonas conseguiram escapar. Certa noite, as Górgonas prisioneiras no acampamento das Amazonas "lograram" apoderar-se das armas das sentinelas e mataram grande número de guerreiras. Recompondo-se rapidamente, as comandadas de Mirina massacraram as rebeldes. Às Amazonas mortas foram prestadas honras de heroínas e foi erguido um túmulo suntuoso com o intuito de perpetuar-lhes a memória. À época histórica, ainda era conhecido com o nome de "Túmulo das Amazonas". Já bem mais idosa, Mirina foi assassinada pelo rei Mopso, um trácio expulso de seu país pelo rei Licurgo. Mirina, rainha das Amazonas, é seu nome na Ilíada, mas este é seu nome perante os Deuses; entre os mortais ela é chamada Batiia.
AMAZONAS MÍTICAS:
Andrômaca: "A que luta contra os homens ou como se fôsse um homem". Uma ânfora retrata a luta desta amazona com o herói Héracles, mas, comumente este nome está associado à heroína troiana espôsa do herói e inimigo de Aquilles, Heitor.
Antíope: "A inigualável por seu rosto, a belíssima. Teria sido raptada por Theseus e com ele gerou Hipólito. Na invasão das Amazonas em Atenas, Antíope se voltou contra suas irmãs, pois estava apaixonada por Theseus, e foi morta por Molpádia. Outra versão diz que Antíope teria sido repudiada pelo herói e por isso, as Amazonas invadiram a Ática, para vingar a amiga.
Apríate: "A que não tem preço, sem resgate". Heroína de Lesbos, não correspondeu aos anseios apaixonados de Trambelo que, inconformado, tentou raptá-la durante um passeio que fazia com suas amigas pelo campo. Ela resistiu e Trambelo, envergonhado com o fracasso, lançou-a ao mar. Diz-se também que a própria Apríate se atirou no mar, para não se casar com o filho de Télamon. Posteriormente, Trambelo foi punido pelos Deuses, perecendo às mãos de Aquilles. Apesar do mito não mencionar Apríate como uma Amazona, sabe-se que Lesbos era uma ilha só de mulheres, e segundo alguns, uma das moradas das guerreiras.
Batiia: "Espinho", nome humano da Deusa-Amazona, Mirina.
Clete: "A convocada, a bem-vinda". Embora Amazona, serviu como ama a Pentesiléia. Após a morte de sua rainha em Tróia, Clete tentou regressar à pátria, mas uma tempestade arremessou-a no litoral da Itália meridional. Vendo no fato a vontade da Moira (destino), ergueu ali a cidade de Clete, vizinha da de Caulônia, fundada por seu filho Cáulon. Pereceu bem mais tarde, lutando contra a poderosa Crotona, que lhe anexou a cidade.
Clônia: Uma das companheiras de Pentesiléia na Guerra de Tróia, onde pereceu em combate. Significado de seu nome ainda não encontrado.
Górgonas: Alguns historiadores crêem que as Górgonas (Medusas) eram sacerdotisas lunares usando máscaras para assustar os visitantes inoportunos. Outros acreditam que elas eram uma tribo de Amazonas da Líbia, denegridas pelos gregos como sendo monstros. Esta tribo seria uma tribo inimiga das Amazonas de Temiscira, conforme relata o mito de Mírina.
Hálias: São as "Mulheres do mar", cujo túmulo se encontrava em Argos. Contava-se que, tendo vindo das ilhas do mar Egeu com Dioniso, a fim de ajudar o Deus na luta contra Perseus e os argivos, pereceram em combate.
Hipsipile: "A de portas elevadas". Filha de Toas (rei de Lemnos) e de Mirina, sendo neta de Dioniso e de Ariadne, por via de seu pai, e tendo como avô materno Éolo. As mulheres de Lemnos se descuidaram do culto a Afrodite, que se vingou, impregnando-as com um odor pestilento. Os maridos as abandonaram pelas escravas da Trácia e, revoltadas, mataram todos os homens, fundando uma colônia feminina. Hipsipile, entretanto, recusou-se a matar seu pai, passando por muitos problemas e perseguições, por causa disto.
Lisipe: "Aquela que solta os cavalos ou dá rédeas soltas a eles". Tânais cultuava entre os Deuses apenas a Ares e detestava mulheres. Afrodite, para puni-lo, fê-lo se apaixonar pela própria mãe, a Amazona Lisipe. Desesperado, o herói lançou-se no rio Amazônio que, desde então, passou a se chamar Tânais.
Melanipe: "A de cavalos negros ou a que os possui"; filha de Ares e irmã da rainha Hipólita. Capturada por Héracles, foi libertada por Hipólita, que dizem, aceitou todas as condições impostas pelo vencedor. Na luta que, por equívoco, se seguiu, entre Héracles e as destemidas guerreiras, Hipólita foi assassinada pelo mesmo, enquanto Melanipe morreu sob os golpes de Ájax Telamônio.
Molpádia: "A que canta e dança"; Molpádia é uma das Amazonas que marcharam contra a Ática, para vingar o rapto de sua colega Antíope por Theseus. Na peleja, Antíope, que se apaixonara por seu raptor, lutou ao lado deste contra suas irmãs, mas foi morta por uma flechada de Molpádia. Theseus, por sua vez, a liquidou com um golpe de lança.
Pítane: "Rio ou descendente de um rio"; Amazona que teria fundado na Mísia a cidade de Pítane, além de Cime e Priene, respectivamente na Calcídica e na Jônia.
Sanápe: Quando Héracles foi buscar o Cinturão de Hipólita e, por provocação de Hera, acabou por lutar contra as Amazonas, uma delas, que escapara ao massacre, fugiu para a Paflagônia. Casando-se com o rei local, a Amazona revelou um lado desconhecido até então: o exagero imoderado com o vinho, recebendo, por isso mesmo, o epíteto de Sanápe, que na Paflagônia significa "a bêbada". Este nome, alterado para Sinope, passou a designar a cidade onde reinava seu esposo.
Semíramis: "Amante das pombas". Neta de Aquilles e de Pentesiléia, sendo filha de Caístro (filho de ambos), com uma Deusa síria, chamada Décerto. Foi uma grande rainha e guerreira mítica da Babilônia que, dizem, não morreu, mas foi metamorfoseada em pomba, ou ainda, conduzida por várias pombas ao céu. Uma variante diz que Semíramis seria a responsável pela construção dos Jardins Suspensos da Babilônia, entre outros magníficos monumentos da antiguidade.
- De onde vem o nome de Amazonas?
Os gramáticos estão divididos sobre a palavra grega Amazon: gramatici certain. Uns se baseiam num relato de Diodoro da Sicília sobre as amazonas asiáticas, que com a idade de dezoito anos, se submetiam a ablação do seio direito para não serem impedidas de usar suas armas, e fazem derivar seu nome do prefixo a -, privativo e de mazos, seio. Esta opinião não pode ser sustentada, a não ser que se tome a expressão sem seio no sentido figurado, designando mulheres que tenham sacrificado. Com efeito, todas as figuras de amazonas que possuímos, representadas em vasos antigos, assim como os baixo-relevos do sarcófago do Museu do Capitólio, representam as guerreiras sármatas sem qualquer mutilação. Seu busto nada deixa a invejar ao das outras mulheres; bem pelo contrário. Ele se espalha à vontade sob a clâmide, e o escudo o cobre com dificuldade. As rainhas: Pentesileia, que socorreu os troianos em suas dificuldades; Antíope, mãe de Hipólito, que atacou Teseu, rei de Atenas; Talestris, que visitou Alexandre; Tomiris, que matou Ciro, e tantas outras, que foram as mais belas e as mais corajosas, não eram incomodadas por seu duplo fardo.
Certos historiadores pretendem que, bem antes das heroínas da Capadócia que habitavam às margens do Termodon, - por conseguinte, bem antes do ano 1600 A.C. - floresciam na África mulheres conquistadoras, combatendo duas a duas, unidas por cintos e por juramento. Essas amazonas negras subjugaram os númides, os etiópios e os atlantas africanos, americanos ou oceânicos. São chamadas de amazonas, ou seja unidas, ligadas, do grego ama, denotando união, e zona, cinto. O cinto que usavam era também guardião de seu voto de virgindade. Foi essa tira de fazenda que criou sua reputação na história... Prefiro esta explicação à outra, já que tem a vantagem de melhor nos revelar os costumes primitivos dessas mulheres que os citas chamavam oiorparta, matadoras de homens.
No século XVI, o maravilhoso ainda reinava. O sobrenatural imbuía todas as imaginações. Sonhava-se em toda a cristandade. A miséria da época forçava as almas a se refugiarem nas Tebaidas povoadas de delícias. A feitiçaria tinha invadido tudo. A alucinação era geral e se misturava ao gênio. Foi o que nos valeu as admiráveis descobertas do Renascimento. Assim como a alquimia incentivou a ciência da matéria, o sonho impeliu os homens, através de uma espécie de sonambulismo, a tomar pé em continentes vagamente entrevistos desde a época de Platão.
A América se encontrava em seu caminho e assim foi descoberta.
Existia, em algum lugar, um país atravessado por um mar branco, cujas vagas rolavam em areias de ouro e calhaus de diamantes. Sua capital, Manoa (note-se, de passagem, a identidade com o nome da tribo índia Manau ou Manoa, que deu seu nome à atual capital do estado do Amazonas), era uma grande cidade cheia de palácios. Alguns eram construídos de pedras ligadas por prata; os tetos de outros eram feitos de lâminas de ouro. Pisava-se sobre os metais mais preciosos. Manoa era o depósito de todas as riquezas da Terra. Nela reinava um homem, a quem se dava o nome de le Doré, ou seja El-Dorado em espanhol, porque seu corpo era coberto de faíscas de ouro, assim como o céu é cravejado de estrelas.
A loucura da riqueza se apoderava da Europa e substituía as histórias místicas. Essa nova corrente carregou consigo muita gente.
Gonzalo Pizarro, irmão do conquistador do Peru, Alonso Pizarro, deixou-se tentar. Em 1539, pôs-se à frente de um bando de aventureiros armados até os dentes, amplamente munidos de provisões, e partiu do Peru à conquista dos escudos e das couraças de ouro, usadas, segundo a tradição, pelos guerreiros de El-Dorado. A caminho, a uma centena de léguas de Quito (hoje capital da República do Equador), alistou um soldado da fortuna, do qual fez, por infelicidade, seu tenente. Esse homem chamava-se Francisco de Orellana.
Caminharam dia e noite, através de florestas e de grandes rios. Alimentavam-se como podiam, de ervas e frutos selvagens. O cansaço, as febres, as privações dizimaram os ávidos exploradores. Após muitos meses de lutas e de sofrimentos inauditos, Pizarro e seus companheiros não tinham conseguido descobrir a cidade encantada com o seu velo de ouro. Tiveram de se contentar em descobrir algumas pepitas do precioso metal ao longo de sua rota (alguns pretendem que foram encontrados 50.000 quilos de ouro). Orellana é encarregado da guarda do tesouro. Ele o carrega num pequeno barco, leva consigo cerca de cinqüenta homens e parte.
Desce, ao acaso, um rio, o Coca, que o conduz a um grande rio. Sem nenhuma dúvida, estava navegando no mar branco de ondas prateadas do reino de El-Dorado.
Seu plano estava pronto. Nosso tesoureiro infiel se considera desde então como o legítimo proprietário de sua carga de ouro. Só se preocupa em ganhar velocidade e se afastar cada vez mais de seu chefe. O rio era rápido: abandona sem escrúpulos o navio à correnteza. Dois de seus companheiros lhe observam que talvez estejam navegando rapidamente demais, e que Pizarro não poderá segui-los. Orellana se desfaz desses homens, incapazes de compreendê-lo. Ele os deixa sobre a margem, sem armas nem provisões, em plena floresta virgem. Um desses infelizes era um dominicano, Gaspard de Carvajal; o outro, um fidalgo de Badajoz, Hernando Sanchez de Vargas.
Porém outros obstáculos se apresentam. As tribos ribeirinhas o atormentam sem cessar com flechadas. Orellana consegue passar incólume. Enfim, a 26 de agosto de 1541, deixar o Mar doce, a que dá o seu nome, e que depois foi chamado de rio das Amazonas.
Enquanto o confiante Pizaro, privado de seu ouro, retornava a Quito de mãos vazias, seu associado, mais feliz, conseguia fazer chegar seus tesouros à Espanha. Fez acreditar a seus compatriotas que tinha sido atacado por mulheres selvagens, uma espécie de amazonas louras, que o tinham emboscado a caminho. Contou-lhes a esse respeito histórias mitológicas, que deram a volta à península.
O germe da lenda estava lançado, e, semeado em bom terreno, ia produzir frutos.
Orellana tornou a partir da Espanha a 11 de maio de 1544, em direção ao Novo Mundo. Foi menos bem sucedido dessa vez. Como era de justiça, morreu.
A Inglaterra de Jacques I (1603-1625) acreditou nessas lendas, como sabe acreditar em tudo o que não perturba por demais o equilíbrio de seus interesses, e Raleigh apoiou essas crenças.
Mas ele também, para justificar sua falha e salvar a cabeça, havia falado dos batalhões de amazonas que guardavam seus tesouros.
Todos aqueles que, desde então, nutriram a fantasia de ver por si mesmos, Jean de Léry e Gandavo particularmente, não ousaram lançar dúvidas sobre a existência das terríveis guerreiras. Esses viajantes deviam mentir muito, para dar a aparência de terem ido muito longe. Não hesitaram em enxertar suas próprias fantasias romanescas em simples dados fornecidos por seus antecessores.
Gandavo, que tinha alguns conhecimentos da História Antiga, assim traduzia Diodoro de Sicília:

"Existem, entre as tribos indígenas, algumas índias que fazem votos de permanecer castas. Não têm nenhum contato com os homens, e preferem morrer a romper seu celibato. Abandonam todos os ofícios femininos e se entregam a ocupações viris. Usam os cabelos cortados como homens; vão à guerra e à caça com arcos e flechas. Cada uma tem uma mulher que a serve, com a qual se diz casada. Esses pares mantêm entre si relações íntimas como as que existem entre marido e mulher..."

Trata-se certamente de criaturas inseparáveis da África, unidas por um mesmo cinto que nada têm de casto, as amazonas, em resumo.

"A trinta e seis léguas abaixo da última aldeia dos tupinambás, descendo o rio Amazonas, encontra-se ao norte, um rio que vem da província do mesmo nome e que é conhecido pelos habitantes da região pelo nome de cunuris. Esse rio recebe seu nome das tribos de índios que habitam perto de sua embocadura. Acima destes se encontram os apotos, que falam a língua-geral (o tupi-guarani). Depois deles se acham os tagaris, depois os guacaris, a tribo bem-aventurada que goza dos favores das valentes amazonas. Os guacaris construíram sua aldeia em montanhas de altura prodigiosa (as Cordilheiras da Guiana). Entre elas se encontra um monte, chamado tacamiaba, cujo cume se eleva muito acima dos outros, e que é estéril, porque é incessantemente batido pelos ventos. Aí, habitam as amazonas.

Essas mulheres vivem sozinhas e se protegem sem a ajuda dos homens. Apenas, em certas épocas determinadas, recebem a visita de seus vizinhos, os guacaris. Quando estes chegam, elas correm às armas, temerosas de serem surpreendidas. Mas, logo que reconhecem seus amigos, precipitam-se em direção aos barcos dos recém-chegados. Cada uma pega uma itamaca (rede) e vai armá-la em sua casa, esperando os homens. Ao fim de alguns dias, os hóspedes das amazonas voltam à sua aldeia, não deixando nunca de retornar na próxima estação. As filhas que nascem dessas uniões são criadas por suas mães. Ensinam-lhes a trabalhar e a manejar armas. Quanto aos meninos, não se sabe ao certo qual o seu destino. Ouvi dizer por um índio que, quando jovem, tinha ido com seu pai a um desses encontros, que as amazonas entregam ao pai, no ano seguinte, o menino nascido da união. Mas acredita-se geralmente, que esses meninos são mortos.
De qualquer forma, essas mulheres possuem tesouros capazes de enriquecer o mundo inteiro. A barra do rio em cujas margens habitam as amazonas se encontram a 2 graus e meio de altitude meridional".

"Por volta do meio-dia, as amazonas se afastavam do acampamento, sozinhas ou duas a duas... Os eitas se aperceberam e fizeram o mesmo. Um deles se aproximou de uma dessas amazonas isoladas e esta, longe de afastá-lo, concedeu-lhe seus favores... O jovem eita, de volta ao acampamento, contou sua aventura, e no dia seguinte voltou com um companheiro ao mesmo lugar, onde encontrou a amazona que o esperava com uma companheira. Os outros jovens, informados do fato, conquistaram assim as outras amazonas, e, reunindo em seguida os dois acampamentos, permaneceram juntos, e cada um tomou como mulher aquela que primeiro lhe concedera seus favores... Daí provém que as mulheres saromatas conservaram seus antigos costumes: elas montam e vão à caça, ora sós ora com seus maridos. Elas os acompanham à guerra e usam as mesmas roupas que eles..."

Foi portanto a lenda grega que serviu a Orellana, a Raleigh e ao padre Acuña para construir sua lenda amazônica.
Essas fábulas tinham-se espalhado entre os habitantes da Amazônia, e De La Condamine propagou-as por toda a Europa no século XVIII.
O que pôde dar lugar às amplificações de Francisco Orellana e dos que o seguiram, foi o hábito que grande número de índias conservou de acompanhar os homens à guerra, de excitá-los ao combate mesmo de tomar parte nos ataques dirigidos contra povos rivais. Esses costumes índios nos ajudam a compreender melhor o que eram outrora as mulheres do Termodon.
Já em 1774, Ribeiro de Sampaio observava que os tuturicus, então em franca hostilidade contra os centros de população fundados no Tocantins, levam suas mulheres à guerra, e que estas, não só lhe fornecem flechas durante o combate, mas suportam muito bem o fogo dos brancos. Os otomacas também assim faziam, com a diferença que suas mulheres apanhavam as flechas inimigas, envenenavam-nas imediatamente, e as entregavam aos maridos para que as lançassem contra o inimigo.

(NÉRI, Frederico José de Santana. O país das amazonas)
A Lenda Brasileira
Diz a lenda que a 400 a 600 anos atrás, existiu na região Amazônica, próximo às cabeceiras do rio Jamundá, um reino formado somente de mulheres belas e guerreiras, conhecidas como Icamiabas. Elas viviam completamente isoladas, só mantendo contatos esporádicos com homens.
Em certas épocas do ano estas mulheres celebravam suas vitórias sobre o sexo oposto. Neste dia, uma grande festividade era organizada e elas desciam do monte onde viviam até o lago sagrado denominado "Yaci Uarua" (Espelho da Lua).
Durante à noite, quando a Lua deitava sobre o espelho d'água, as Amazonas mergulhavam nela com seus corpos fortes e morenos. Após este ritual de purificação e limpeza, estas deusas da Lua clamavam pela mãe do Muiraquitã. Os estudiosos folcloristas identificaram esta entidade como uma fada, mas ela também pode ser a Grande Mãe. Era ela que entregava a cada uma daquelas mulheres uma pedra da cor verde (jade), denominada de "Muiraquitã", onde encontravam-se esculpidos estranhos símbolos. Cada nativa trazia em seu pescoço seu talismã propiciatório de proteção material e espiritual. Mas elas também os presenteavam àqueles que seriam os futuros pais de seus filhos. Estes homens eram selecionados para fecundá-las e depois eram mantidas vivas as meninas, que mantinham a continuidade da casta matriarcal das mulheres guerreiras.
As Amazonas foram vistas pela primeira vez pelo padre espanhol Gaspar de Carvajal, cronista da expedição de Francisco de Orellana. Tal encontro ocorreu no lugar exato onde o rio Negro encontra-se com o Amazonas e não foi muito atraente a estada para estes exploradores. Ao chegarem a aldeia das índias, constataram que no centro de uma praça erigia-se um ídolo, que era o símbolo de uma poderosa Senhora, Rainha de uma grande nação de mulheres guerreiras. Uma dúzia de guerreiras investiram contra os espanhóis e tiraram a vida de vários indígenas que os acompanhavam. Carvajal as descrevia como sendo mulheres altas, belas, fortes, de longos cabelos negros, tez clara e que andavam totalmente despidas, com arcos e flechas e guerreavam como dez índios.
Esta descrição nos remete à um coração de uma caçadora também solitária, Ártemis. Estas mulheres índias representam o arquétipo mais puro e primitivo da feminilidade. Foram deusas nativas que santificavam a solidão, a vida natural e primitiva a qual todos nós podemos retornar quando acharmos necessário a busca de nós mesmos. Como Ártemis, elas possuem um amor intenso pela liberdade, pela independência e pela autonomia. Um amor que pode transparecer como agressão, pois elas sempre irão lutar para preservar sua liberdade.
Por Roseane Volpato ( Reino das Deusas)