25.3.11

Termina edição dos pergaminhos do Mar Morto


Chefe da equipe de pesquisadores anunciou o fim do projeto, após 5 décadas


Esta foto é uma Reprodução Computadorizada
Os rolos foram encontrados em cavernas perto do Mar Morto; pesquisador diz que os textos nada contêm que possa abalar fundamentos da religião judaica e do cristianismo
NOVA YORK - Cinqüenta e quatro anos após a descoberta do primeiro dos rolos de pergaminhos do Mar Morto, uma sensação arqueológica do século 20, todos os antigos textos já foram publicados, ou quase. O anúncio da virtual conclusão do projeto de publicação, envolvendo cerca de 900 rolos e comentários em 38 volumes, dois deles em fase final de preparação, foi feito na quinta-feira, na Biblioteca Pública de Nova York, pelo dr. Emanuel Tov, professor da Universidade Hebraica de Jerusalém que é o editor do projeto desde 1990. Os rolos, alguns datando de 250 antes de Cristo, enquanto outros são do ano 70 desta era, foram descobertos entre 1947 e 1956 nas grutas de Qumran, ao sul de Jericó, na margem ocidental do Mar Morto. O que é insuficiente para abalar os fundamentos tanto do judaísmo quanto do cristianismo, como chegaram a pensar.
Um rolo contendo uma canção de graças hebraica será dedicada à cidade de Nova York, em tributo pelo seu sacrifício e determinação diante dos ataques terroristas do dia 11 de setembro. Ela convoca os "bem-amados" a se rejubilarem com eterna alegria pelo poder divino. Especialistas consideram os rolos um tesouro da história judaica e da religião do período. Eles permitem visões de como era a Bíblia judaica há 2 mil anos e refletem o pensamento judaico durante o turbulento período que provocou o início do judaísmo rabínico.
Embora não haja nenhuma menção a Jesus ou a João Batista, ou qualquer coisa que lembre o movimento religioso descrito no Novo Testamento, os especialistas dizem que os pergaminhos lhes permitiram um entendimento mais rico do mundo judaico durante a vida de Jesus. "Os rolos são mesmo mais valiosos do que se pensava há 50 anos", disse Tov. "Eles nos deram a literatura do antigo Israel." O anúncio de quinta-feira foi um marco que parecia longe de ser atingido pouco mais do que uma década atrás. À época, os rolos estavam sob controle de apenas dez pesquisadores que não demonstravam nenhuma pressa em compartilhá-los com os demais.

Divergência - Somente após uma disputa em público e por trás das cenas, depois do contrabando de cópias de alguns textos e que um arquivo de fotografias dos rolos se tornou disponível é que o assim chamado monopólio foi quebrado. Uma nova e mais ampla comunidade de cerca de cem estudiosos internacionais, supervisionados por um órgão israelense destinado a cuidar das antiguidades, se encarregou dos rolos em 1991, pedindo a rápida publicação. Durante as quatro décadas em que os primeiros editores estiveram encarregados do trabalho, somente oito volumes dos textos foram publicados. Nos seus dez anos de atividade, a equipe de Tov liberou 28 volumes, sem contar os dois em fase final de preparação. Os livros são publicados pela Oxford University Press sob o título geral de Discoveries in the Judean Desert (Descobertas no Deserto da Judéia).
Esta semana, Tov disse, aliviado: "Minha tarefa era providenciar que os rolos fossem colocados à disposição do público. Isso está agora mais ou menos completado, e os rolos do Deserto da Judéia vêm sendo apresentados ao mundo dos especialistas na forma de edições críticas." Em entrevistas, Tov e outros ligados ao projeto disseram que nada nos rolos deverá abalar fundamentos religiosos. Já se pensou que esse tipo de efeito fosse possível, causando grande preocupação entre alguns líderes religiosos. Um argumento para garantir a vasta disseminação dos textos foi que eles afastariam suspeitas de que os primeiros editores estavam evitando a publicação de documentos por receio de que eles poderiam lançar uma luz negativa sobre o judaísmo e o cristianismo inicial.

Essênios - Os rolos foram escritos em hebraico e aramaico. Cerca de 200 deles contêm o mais primitivo original bíblico conhecido. Os outros contêm orações, rituais e regras de uma seita judaica isolada e austera, provavelmente os essênios, que viveram em Qumran. O dr.
James C. VanderKam, professor de escritura hebraica na Universidade de Notre Dame e um dos editores dos pergaminhos, disse que a "teoria dominante" é ainda a de que muitos dos textos foram escritos ou copiados pelos essênios de Qumran, mas outros foram provavelmente escritos em outros lugares e levados para lá por novos membros da seita.
VanderKam e outros editores disseram que têm dúvidas sobre um ponto de vista minoritário segundo o qual os pergaminhos pertenceram a uma biblioteca de Jerusalém, tendo sido levados para as grutas por segurança. Se este fosse o caso, disseram, eles teriam esperado que os textos refletissem uma gama mais vasta de opiniões e não, principalmente, idéias e práticas essênias. Tov está agendado para fornecer um relatório mais detalhado sobre a publicação dos pergaminhos numa entrevista à imprensa em Denver, na Sociedade de Literatura Bíblica. Um volume introdutório será publicado no ano que vem com a história do projeto e uma relação de todos os textos. Num prefácio, Tov observou que nesses empreendimentos, é usual que a introdução apareça "ao fim do trabalho, quando tudo está feito e dito" e os editores têm uma idéia mais clara do significado geral da pesquisa.
Fonte: JOHN NOBLE WILFORD - The New York Times