13.3.11

Igreja rendida ao deus marketing

Como poderia a Igreja recuperar o seu prestígio social e exercer de novo aquela influência que teve na nossa sociedade há apenas alguns anos? Sem o confessar, talvez, em voz alta, são muitos os que têm saudade daqueles tempos em que a Igreja podia anunciar a sua mensagem desde plataformas privilegiadas que contavam com o apoio do poder político. Não teremos de lutar por recuperar outra vez essas plataformas perdidas que nos permitam fazer «uma propaganda» religiosa e moral, eficaz, capaz de superar outras ideologias e correntes de opinião que se vão impondo entre nós? Não teremos de trabalhar mais na formação sólida dos cristãos para que, bem equipados na doutrina cristã, possam transmiti-la de maneira persuasiva e convincente, atraindo de novo as pessoas para a verdade? Não teremos que criar estruturas religiosas mais fortes, aperfeiçoar os organismos pastorais e fazer da Igreja uma «empresa mais competitiva e rentável»? Sem dúvida, no fundo desta inquietação há uma vontade sincera de levar o evangelho de Jesus Cristo aos homens e mulheres do nosso tempo, mas será esse o caminho a seguir? As palavras de Jesus, ao enviar os seus discípulos sem pão nem alforje, sem dinheiro nem túnica, insistem mais bem em «caminhar» pobremente, com liberdade, ligeireza e disponibilidade total. O importante não é um equipamento que nos dê segurança mas sim a força mesma do evangelho vivido com sinceridade, pois o evangelho penetra na sociedade não tanto através de meios eficazes de propaganda, quanto por meio de testemunhos que vivem fielmente o seguimento de Jesus Cristo. São necessários cristãos bem formados doutrinalmente, mas são necessários, muito mais, testemunhos vivos do evangelho. São necessárias na Igreja a organização e as estruturas, mas apenas para sustentar a vida evangélica dos crentes. Uma Igreja carregada de excessivo equipamento corre o risco de tornar-se sedentária e conservadora. A curto ou médio prazo, preocupar-se-á mais em abastecer-se a si mesma do que em caminhar livremente no evangelho. Uma Igreja mais desguarnecida, mais privada de privilégios e mais empobrecida de poder sócio-político-económico, é uma Igreja mais livre e mais capaz de oferecer o evangelho na sua verdadeira pureza. Ao fazer esta reflexão, não podemos deixar de pensar na maneira faustosa como vivem muitos Bispos e padres da Igreja. Não, não vamos falar do modo como enriqueceram tão depressa. Vamos apenas focar a atenção na falta de testemunho que vem de cima. Que dizer de um Papa rendido ao marketing? (cfr.:http://www.correiodamanha.pt/noticia.asp?id=199640&idCanal=21) Que pensar de um Papa preocupado em exibir a sua vaidade? (cfr.:http://www.terra.com.br/istoe/1894/internacional/1894_papa_fashion.htm) Que dizer de uma Igreja subserviente ao poder económico e vendedora de sacramentos? Será esta a liberdade pedida por Jesus aos seus seguidores ao ordenar-lhes que "nada levassem para o caminho, a não ser o bastão: nem pão, nem alforge, nem dinheiro; que fossem calçados com sandálias, e não levassem duas túnicas" ? Chocante, não é?! Termino com uma advertência muito séria de Santo Ambrósio: Não é digno de um imperador interditar a liberdade de palavra e não é digno de um sacerdote não dizer aquilo que pensa. Em vós, imperadores, não há nada que seja mais democrático e amável do que apreciar a liberdade, até mesmo naqueles que vos devem obediência militar. É esta, precisamente, a diferença entre os bons e os maus príncipes: os bons amam a liberdade, os maus a escravidão. Ao mesmo tempo, para um sacerdote não há nada mais perigoso perante Deus e indigno perante os homens do que não dizer livremente aquilo que pensa. Está escrito: "dava testemunho de ti na presença dos reis e não me envergonhava" (Sl 118, 46); e, noutro passo: "Filho do homem, coloquei-te como sentinela da casa de Israel porque, no caso do justo deixar o caminho da justiça e cometer um delito e tu nada lhe disseres, de nada lhe aproveitará a sua anterior justiça, mas eu pedirei contas a ti pela sua condenação... (cf. Ez 3, 17-19). http://www.terra.com.br/istoe/1894/internacional/1894_papa_fashion.htm